A recuperação do mercado acionário brasileiro contribuiu para que os gestores de fundos de investimento que aplicam em papéis de empresas do país conseguissem resultados melhores do que colegas do Chile e do México.
Levantamento realizado pela S&P Dow Jones Indices LLC, braço da agência internacional de classificação de risco S&P Global, analisou resultados obtidos até junho por fundos de gestão ativa, que escolhem as ações prometendo superar indicadores de referência do mercado.
O levantamento comparou o desempenho dos fundos com indicadores elaborados pela própria S&P Dow Jones, que procuram representar os mercados acionários no Brasil, no Chile e no México.
O estudo mostra que 52% dos gestores de fundos que têm como referência o índice S&P Brazil BMI —cuja carteira tem ações de empresas como Petrobras, Itaú Unibanco e Ambev— conseguiram superar o indicador no curto prazo, nos 12 meses até junho.
No Chile, apenas 11,6% dos gestores ganharam mais do que o S&P Chile BMI. No México, o resultado foi um pouco melhor: 32,6% dos fundos conseguiram rendimento acima do S&P Mexico BMI.
A Bolsa brasileira acumulou alta de 18,9% neste ano até junho. No mesmo período, o principal índice do mercado acionário chileno avançou 8,6%, pouco acima dos 6,9% do indicador mexicano.
O contexto macroeconômico e político dos três países ajuda a explicar a diferença do desempenho. A economia brasileira entrou em recessão em 2014 e o país viveu meses de crise política, o que contribuiu para desvalorizar as ações de muitas empresas.
A Bolsa voltou a se valorizar no Brasil neste ano, especialmente com o fim do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a expectativa de recuperação da atividade econômica.
No Chile, dificuldades políticas enfrentadas pela presidente Michelle Bachelet não tiveram tanto impacto na economia. O governo tem lidado com protestos contra o sistema previdenciário e manifestações estudantis. Mesmo assim, o país cresceu 1,5% no segundo trimestre deste ano, em relação a 2015.
O México foi o país com melhor desempenho entre os três: a atividade econômica cresceu 2,4% no segundo trimestre. A violência do narcotráfico afugenta as empresas, mas a proximidade com os Estados Unidos e seu gigantesco mercado consumidor ainda atrai os investidores.
LONGO PRAZO
Para Philip Brzenk, diretor global de pesquisa e design da S&P Dow Jones Indices, não é possível atribuir a melhor performance dos gestores de fundos no Brasil apenas à recuperação recente do mercado acionário do país.
"Pode ter sido um melhor timing dos gestores brasileiros no curto prazo", diz. "No longo prazo, porém, o desempenho fica abaixo do indicador em todas as categorias."
Quando se analisa um prazo maior, é possível perceber o impacto negativo de três anos de crise política e econômica, com perdas na Bolsa brasileira, sobre o desempenho dos fundos de ações.
Mesmo nos fundos com gestão ativa, menos de 30% dos administradores conseguiram alcançar ganhos maiores do que o sugerido pelo indicador de referência, aponta o estudo. Em cinco anos, o percentual cai para 28% dos fundos analisados.
"No longo prazo, um bom gestor de fundos precisa ter forte disciplina de investimento e um processo mais apurado para a escolha de seus ativos", afirma Brzenk.
Fonte: Folha de SP