A absorção de conceitos de educação financeira consegue se traduzir mais em mudança de atitude se os princípios forem ensinados desde cedo. É o que indica avaliação do Banco Mundial feita com base no projeto-piloto da Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira) aplicado no ensino fundamental em 2015.
O projeto foi aplicado em 9.000 alunos do terceiro, quinto, sétimo e nono anos.
Enquanto nos primeiros anos a diferença ficou mais marcada, no nono ano houve resultado menos expressivo no que diz respeito a atitudes de consumo, afirma Caio Piza, economista do Banco Mundial e um dos responsáveis pela avaliação do projeto.
Para analisar o impacto, os estudantes concordavam ou discordavam de algumas afirmações. O resultado de alunos de terceiro ano —média de nove anos— não foi considerado na comparação porque as respostas foram dadas pelos pais devido à baixa idade das crianças.
Os alunos do 5º ano (11 anos) e do 7º ano (13 anos) tiveram resultado mais marcado. O grupo que recebeu princípios de educação financeira (tratamento) discordou mais da pergunta "não vejo problema em ficar devendo dinheiro" do que os estudantes do grupo de controle, que teve material didático tradicional (ver quadro).
"O programa revelou que há um incremento na atitude poupadora do grupo. Esses alunos entram com perspectiva de poupança zerada e há uma mudança de comportamento no que tange à atitude poupadora", afirma Claudia Forte, supervisora da AEF (Associação de Educação Financeira), que desenvolve os projetos aprovados na Enef.
O estudo mostra ain- da que os adolescentes do nono ano do ensino fundamental são mais afetados por propagandas, que estimulam o consumo, do que o observado em estudantes de anos inferiores. No que diz respeito ao percentual de alu- nos que acham importante guardar dinheiro para enfrentar problemas no futuro, por exemplo, a diferença entre o grupo de controle e o de tratamento é a menor encontrada: 38% ante 37%, respectivamente.
No quinto ano, o placar foi 47% a 43%, e, no sétimo, 41% a 38%.
"Os alunos do nono ano, por serem mais velhos [na média têm 15 anos], já estão expostos a esse bombardeio diário pró-endividamento, de compras a prazo e cartão de crédito", afirma Piza.
"Há uma enxurrada de propaganda do crédito. Esse estudante recebe poucas propagandas sobre a importância de poupar. São muito preocupados com o ter", diz Claudia Forte, da AEF.
Em outros casos, não houve diferença entre os grupos. Quando a pergunta foi se veriam problema em ficar devendo dinheiro, o resultado foi o mesmo: 90% disseram discordar da afirmação.
"A gente viu que o treinamento funcionou, mas não se traduziu em mudança de comportamento nos alunos de nono ano", diz Piza.
"A mudança de comportamento é nosso objetivo, e não que o aluno aprenda matemática financeira", diz Forte. "Queremos que ele instrumentalize a educação financeira no cotidiano."
Fonte: Folha de SP