As redes sociais foram criadas com a proposta de aproximar e facilitar o contato entre as pessoas. Nos dias atuais, de modo geral, essas intenções estão cada vez mais deturpadas. Principalmente no Facebook, é fácil observar, com frequência, a divulgação de discussões acaloradas e atos de intolerância entre alguns usuários. As polêmicas são alimentadas de acordo com os mais variados assuntos e interesses pessoais. Seja pela derrota do time do coração, pela preferência política ou pela opinião formada (ou não) sobre determinado tema. São muitos os motivos para a troca de farpas virtuais.
O Facebook, projetado inicialmente com bons propósitos, tem sido inclusive motivo de infelicidade para algumas pessoas. Duas pesquisas recentes -- uma delas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em parceria com a Universidade de Leuven, na Bélgica; e outra da Universidade Utah Valley (EUA) -- chegaram a resultados semelhantes. Ambas mostraram que, quanto mais tempo conectado à maior rede social da atualidade, maiores são os sintomas de tristeza e depressão. "Seria simplista demais dizer que as redes sociais são boas ou ruins", considera o professor Wilton Garcia, doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutor em Multimeios, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e professor do mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso). Apesar das posturas um tanto quanto intransigentes por trás das telas, maiores ou menores conforme a plataforma utilizada, também há de se ressaltar os bons frutos trazidos pelo Facebook, como a facilidade de, entre outras coisas, mobilizar multidões para ajudar o próximo e até mesmo reunir usuários a partir de suas afinidades. É preciso ter cautela para se expor na rede social e não correr riscos O Facebook perdeu seu objetivo inicial de aproximar as pessoas. Esta a opinião das pessoas entrevistadas pelo Cruzeiro do Sul esta semana, nas ruas da região central de Sorocaba. A justificativa dada, na maioria dos casos, é o comportamento rude de quem está conectado. "Antes, a ideia era contatar amigos, conversar, marcar festas e passeios. Hoje em dia muitos usam para agredir alguém e postar vídeos que denigrem a imagem de outras pessoas que eles têm inimizade. É uma faca de dois gumes: assim como você agride (virtualmente) outras pessoas, elas também podem fazer o mesmo", critica o tatuador Wladimir Costa, 39 anos. À reportagem, Costa revela que já não olha mais seu feed de notícias. "Uso (o Facebook) basicamente para divulgar meus trabalhos e conversar com meus amigos. Essas polêmicas estão tão chatas que, muitas vezes, deixo de ver coisas legais que eles postam para não ter que ver esses discursos de ódio", afirma. Na opinião do promotor de eventos Augusto Cesar Soares, 22, as postagens feitas por algumas pessoas para atingir outras de maneira indireta "dão muito trabalho porque provocam briga desnecessária". "Muitos se ofendem com o que a outra pessoa falou e acaba virando uma discussão séria, que pode se tornar uma ofensa como racismo ou algo do gênero", argumenta ele, acrescentando que tenta "se afastar" desse tipo de situação. Para a comerciante Adriana Lumi Tanioka, 38, é preciso ter cautela para se expor na rede social. Ela acredita que os usuários têm vivido tanto o mundo virtual que acabam se esquecendo da realidade. Para justificar sua visão, ela lembrou de uma polêmica recente no Facebook. "No caso do atentado de Paris, o pessoal mudou a foto de perfil. Mas, antes, teve o caso de Mariana (em Minas Gerais) e ninguém fez coisa parecida sendo que é uma cidade do Brasil, onde a ajuda poderia ser mais efetiva", opina. Já o estudante Valdinei Ribeiro, 17, sobre a mesma questão, argumenta que "as pessoas estavam tentando descobrir qual era a melhor tragédia." "Eu acho que é preciso dar apoio para os dois casos. Se a pessoa quer trocar a foto de perfil, é porque deseja mostrar solidariedade para com as famílias. Cada um tem que entender o ponto de vista do outro", afirma. Fonte: Cruzeiro do Sul